sexta-feira, 23 de novembro de 2012

 CIBER-RELIGIÃO

Padre Jefferson com equipe do on-line: “tecnologias aproximam Igreja e comunidade”


A experiência de ligação entre o ser humano e o sagrado, também conhecida por religião, começa a tomar novas formas.

Uma das ferramentas mais inovadoras utilizadas atualmente na conexão entre o divino e o humano é a internet. O historiador e doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Jorge Miklos, chama esse fenômeno de ciber-religião.
O conceito foi percebido a partir do grande protagonismo das religiões e das Igrejas em mídias como o rádio, a televisão e também a internet. Nesse sentido, a ciber-religião pode ser considerada uma experiência religiosa que ocorre no ciberespaço, ou seja, nessa nova modalidade espacial que se construiu socialmente em função da proliferação da cibercultura, ambientada nas redes sociais e em outros mecanismos da internet.

As experiências hoje mais presentes na ciber-religião são a vela e o terço virtuais. O velório virtual e a peregrinação a templos religiosos por meio da internet também são considerados práticas em consolidação.
Jorge Miklos é autor do livro Ciber-religião – A construção de vínculos religiosos na cibercultura (Ideias e Letras, 2012) e baseou a obra em sua tese de doutorado.

A pesquisa do autor demonstrou, na prática, a força das relações de fé no ciberespaço. O depoimento de uma moça brasileira que residia nos Estados Unidos foi utilizado como pano de fundo e exemplifica a força da devoção on-line. “Lá ela começou a passar mal, procurou um médico, fez alguns exames e o médico constatou que ela estava com um pequeno tumor, parecido com câncer”, conta.
A moça então telefonou para uma amiga, que recomendou o uso das pílulas de Frei Galvão. “Nesse caso, como ela estava nos Estados Unidos, não tinha acesso a essas pílulas, mas descobriu que tinha como acender uma vela virtual”, explica Miklos. No relato, que está publicado no livro, a internauta conta que conseguiu a cura e atribuiu o sucesso do tratamento à experiência religiosa no ciberespaço.


Reflexo Social

Vela Virtual Acenda uma vela para Nossa Senhora Aparecida 6

A experiência da ciber-religião advém do que chama de “midiatização” do sagrado e sacralização da mídia. Nessa relação, o sagrado adquire formatos midiáticos, repetindo o que já acontece na sociedade em relação às mídias digitais. “Na verdade, nós estamos vivendo muitas mudanças na vida social por conta dessa expansão, desse alargamento do ciberespaço, que é uma modalidade da cibercultura e dessa modalidade virtual”, completa.

Nesse sentido, o uso das novas tecnologias comunicacionais tem provocado mudanças no comportamento das pessoas. No campo espiritual, a mais visível é que a experiência religiosa pode acontecer sem que o fiel esteja presente no templo. “O corpo passa agora a ser descartado, a medida que eu consigo acessar o divino pela internet.”

Dessa forma, verifica-se uma presença cada vez mais constante das tecnologias comunicacionais em rede de religião, que apontam para a interatividade e a interneconexão.
A Igreja católica tem explorado o ciberespaço de modo eficiente, colocando à disposição dos fiéis recursos capazes de promover a evangelização, espalhando a Boa Nova por meio de uma linguagem de fácil acesso e que prima pela universalidade.
Segundo Miklos, as autoridades católicas perceberam a realidade da internet e promoveram uma forte reflexão sobre o potencial evangelizador dessa nova ferramenta de comunicação. “A Igreja já estava no rádio e foi profícuo o seu movimento para o campo da internet também”.

Diante dessa realidade, a Igreja tem sido chamada a utilizar o ciberespaço e, de acordo com Miklos, coloca-se em posição de vanguarda, no comparativo com outras religiões. Embora muitas pessoas digam que o catolicismo adota uma postura conservadora, recusando-se a dialogar com os valores modernos, a experiência com a cibercultura mostra justamente o contrário: que se trata de um sistema aberto, poroso e que está muito atento ao que ocorre no mundo. “E é por isso que ela sobrevive pelo menos há uns dois mil anos na história”.




*Fonte: Jornal Santuário de Aparecida de 15 de julho de 2012, nº5601.  


PASCOM - N.S.P.S.

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