Uma festa social exige de nós
preparativos e sacrifícios. Um casamento, por exemplo, a noiva se
prepara, prepara o seu enxoval, abdica de outros interesses porque a sua
meta é o matrimônio. O noivo também se prepara. Quer dar à noiva uma
vida tranqüila. As famílias de ambos também se preparam. Cada um, de
acordo com as circunstâncias, deixam outros interesses de lado, para
preparar e participar de uma festa inesquecível.
Muito mais significativa é a festa do
Cristo Ressuscitado! Ele mesmo se preparou, foi tentado e testado de
todas as maneiras, passou quarenta dias no deserto, rezando e fazendo
penitência. Sofreu toda a paixão, voluntariamente porque estava se
preparando para triunfar da morte e nos oferecer o resgate de nossos
pecados.
A Igreja se une, a cada ano, mediante os
quarenta dias da Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto. A Quaresma é
um tempo de organização para a festa da Páscoa.
Desde o início de cristianismo, a
Quaresma constitui-se num tempo especial de orientação dos catecúmenos
que seriam batizados na Vigília Pascal e iniciados na vida sacramental e
das comunidades. Em nossos dias, a Igreja convida todos os seus filhos a
preparar a Páscoa numa vida sóbria, com orações mais intensas, com
gestos de penitência e caridade.
Mais do que simples preparação para a
Páscoa, a Quaresma é tempo de grande convocação para que toda a Igreja
se deixe “purificar do velho fermento para ser uma massa nova, levedada
pela verdade”. (cf. 1 Cor 5,7-8).
É tempo favorável de nos convertermos ao
projeto de Deus, ouvindo e acolhendo sua Palavra sempre viva e eficaz,
que nos faz retomar a opção fundamental de nossa fé feita no Batismo.
A Quaresma nos chama à reconciliação, à
mudança de vida, a assumir a busca da humanidade inteira por libertação,
justiça, dignidade, reconciliação e paz. Alargamos ecumenicamente o
coração, trazendo a Deus o clamor sempre mais forte do universo, que
anseia por vida e liberdade, aguardando a plena manifestação dos filhos e
filhas de Deus.
Enfim, a Quaresma coloca a Igreja bem
solidária à paixão de Cristo e solidária também à paixão da humanidade,
que sofre sem rumo, uns oprimindo, outros sendo oprimidos, mas, assim
como carregamos as culpas uns dos outros, carregamos também o sofrimento
nosso e alheio, pois somos um só corpo e, como no corpo humano, o que
afeta um membro, afeta todo o corpo.
Quaresma tem o sentido maior de
fazer-nos redimir as nossas faltas e também as faltas de toda a
humanidade. É o sentido da solidariedade e, através dela, a preparação
dos caminhos de um mundo melhor, mais fraterno, em direção à
Ressurreição.